September 22, 2008

Florescer.


As questões de Estado determinam uma lógica própria, cruel, que sempre termina por sacrificar o destino de muitos. Fugir da teia fria que molda o homem na conformidade da máquina da cidade é o desafio que todos esperam vencer. Fugir da decadência, ainda que por um único momento, é vislumbrar a maravilha de ter existido, ter vivido, ter amado, ter visto as cores, as ondas no mar, os vastos azuis das montanhas.

A primavera é o tempo do intenso caminhar da beleza, marca da promessa da cor. Signo puro da pureza. Vielas de silêncios e esperas. Abrir e fechar, guardar e mostrar. Permanente virtualidade da beleza.

Flor florescer. Nascer e surgir na umidade da luz, na passagem do tempo e na pele das constelações lácteas e brilhantes. Luz fluorescente, florescendo no vigor do verde espelhado em nossas pobres vidas. Nossas buscas intermináveis de sentido em cada taça de vinho, em cada baforada de cigarro, em cada beijo, em cada abraço.

O corpo clama paz e saúde. A paz clama o calor da alma, o calor do corpo na cor da flor e na pureza cristalina da água. O banho e o perfume envolvendo cada dobra do desejo, abrindo permanentemente a luta pelo prazer.


Nada de contabilidades e mercadorias futuras estocadas em bancos de dados e derivativos como barcos a deriva. Bolsas de previsões inúteis, frágeis, hospitalares, bolsas de sangue, horários marcados nos adesivos das agulhas. Cartões de crédito, cartões de entregas e de partidas. Resumos, colunas, palestras. Tudo numa pasta de papel craft forte e bem amarrado.

Tudo isso nada mais é que ficar em casa, em paz, ouvindo música, lendo, deslizando o corpo pelos espaços da alma, pelos corredores dos sentidos, pela interminável memória que guardo aqui.