November 17, 2023

 Volta a este Palco é como voltar a Ítaca após a mais febril loucura da imaginação.



December 27, 2015

Ternura

. . Saudades, saudades. Tua presença é o eterno presente.

January 16, 2013

O gerúndio e a gérbera

E as gérberas, qual o papel delas na sua vida? Por que você não conta as tentativas frustradas de sonhar com as borboletas amarelas? Conte sobre as que nasceram na sala e depois fugiram quando se abriram janelas. Por que você não fala delas? . Imaginara que sua alma era o avatar de Florentino Ariza. Depois, por estúpido descuido, apagou o texto. Tentou lembrar-se daquilo que tinha escrito e não entendeu ter consumido longo tempo narrando o acidente imaginário. Era um exercício delirante, tentativa absurda de expressar o que de fato importava. Porém, no lugar de falar sobre o sofrimento da sua alma, ficou devaneando sobre um acidente imaginário. . Perguntou se suas dúvidas e angústias derivavam das dificuldades com o gerúndio. Desde muito cedo, as professoras de português sempre lhe pareceram uns demônios. Mais tarde, suas dificuldades cognitivas se acentuaram, sobretudo quando foi "sugestionado" a ler Heidegger. Depois disso, tornou sua escrita obscura, no sentido mais profundo da falta de compreensão. . Olhou o relógio e viu que já se tratava da uma e quinze, do horário de verão. Resolveu que não deveria sair de casa; melhor ficar e pensar em como escrever algumas palavras, por mero prazer. Suas dificuldades com o gerúndio não o tinham afastado de todo das fantasias de ser um escritor. Acreditava que, depois de tantas leituras, mesmo sem o gerúndio, sua literatura poderia encontrar um lugar para existir. . Afinal, chegara a hora de dizer algumas palavras, sobretudo as que não fizessem sentido; ficavam mais fáceis de ser entendidas. Viu nisso uma grande esperança e um futuro de nonsense pela frente. . Sentiu um pouco de sono, mas resistiu antes de bocejar. A noite tinha sido longa. Muitas lembranças ocuparam as horas mais silenciosas da madrugada. Lembrou a tenacidade de Florentino Ariza e a força do amor profundo e devastador de um homem por uma mulher. Foi mais ou menos a essa hora que decidiu resolver, de uma vez por todas, seus problemas com o gerúndio. Já passava das quatro e o silêncio era uma dádiva. . - Você está vendo? - Vendo o quê? - Ora, o gerúndio! - Não, só as gérberas. . Ainda intrigado com suas dificuldades com a língua materna, leu no portal de notícias uma matéria intitulada "Rihanna com um chapeuzinho engraçado". A chamada era para o álbum, reproduzido por um portal de notícias, das fotos postadas por essa celebridade, no Facebook. Um ativo tóxico, como costumavam dizer nos corredores do mercado financeiro. Ele, o avatar de Florentino, parecia preso no trânsito caótico da segunda-feira de chuvas escandalosas. . Quando afinal alcançou o conforto do sofá, ouviu o repórter da tv fazer um divertido comentário sobre o bloco carnavalesco dos jornalistas brasilienses: "Nós que tanto nos amamos". Uma ironia sobre a guerra de egos, similar à dos políticos e à dos publicitários. Aliás, essas três "categorias" gozam de péssima fama, no que diz respeito ao caráter e à credibilidade daquilo que dizem, sentem e pensam, concluiu o repórter, no seu comentário. . O avatar delirante de Florentino Ariza buscava alívio para suas fantasias, enquanto imagens povoavam incessantemente sua mente. Subitamente, viu-se tomado pela maciez do sono. Um galo cantou n'algum lugar, mas o sono profundo já transportara o sonhador para outros bosques de gérberas.

December 24, 2012

Uma tarde

A luz invade os esconderijos das sombras suaves. O calor é abrasador, corrói a vontade de qualquer coisa. Reflexos cintilam sobre o piso encerado e refletem luzes na superfície lisa e brilhante da peça encostada à parede da sala. . Minha vontade, esse conceito indiferente às reflexões e aos brilhos, padece os males típicos das abulias. Vontade incerta e luzes corrosivas compõe um quadro de dúvidas e preguiça. Tarde típica de verão e de véspera de alguma coisa. Um Natal especular. . Penso na poesia e faz calor. Enquanto essas luzes vão e voltam na instabilidade do momento, sinto prevalecer uma espécie de distanciamento, lento e perseverante, das palavras encontradas nesta tarde. . Aqui, tudo é luz e saudades... . Entre assimétricos reflexos e uma falta indizível, tua imagem baila nos planos iluminados da passagem dessas horas. . Pensar nas horas da tarde, quando o sol risca o resplandecer, é pensar em vc, nas partes internas e harmônicas, na direção das linhas que marcam as formas das pernas, sob o guardar das roupas. . É um pensamento de luz e instante, um delírio fotográfico sem registros analógicos ou digitais. Puro especular, um quase Natal! ... Você, meu amor, é o meu tempo!

December 10, 2012

Navegar


As palavras surgem outra vez sobre o branco sem fim. Esse 'Pacto' recomeça lembrando a poesia e o tempo. Palavras e imagens, naves perdidas na imensidão do azul, conduzem para um distante lugar.

O poema de Kostantino Kaváfis

Velas

Os dias do futuro erguem-se diante de nós
como uma série de pequenas velas acesas
pequenas velas douradas, quentes e vivas.

Os dias passados ficam para atrás,
uma triste fileira de velas apagadas;
as mais próximas ainda exalam fumaça,
velas frias, derretidas e recurvadas.

Não quero vê-las, entristece-me seu aspecto,
e entristece-me lembrar seu primeiro clarão.
Adiante contemplo minhas velas acesas,


Não quero voltar-me para não ver, apavorado
com que rapidez a sombria fileira se alonga,
com que rapidez se multiplicam as velas apagadas!

Vol tar

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July 28, 2010

Silêncio



Essa publicação chega ao fim. Após quatro anos de uma produção diversa e muitas vezes caótica, os textos aqui publicados não têm mais razão de ser. Eles compõem, agora, a pequena memória de uma bela história de amor. O amor não morreu, a história não acabou, mas se impõe o silêncio.

Agradece as visitas e informa que outra publicação deverá vir à luz.

Silêncio, fim supremo da ausência.

O amor, eros puro e sanguíneo, vermelho rubro de ganas, exibe as mais belas e ingênuas fraquezas humanas.

July 25, 2010

Postais







Essas imagens resultam de uma olhar contemplativo sobre a praça do teatro, na cidade de Ilhéus, na Bahia. Não revelam nem ocultam aspectos da cidade. Ocultam e revelam, quando muito, o desejo do autor.

July 21, 2010

Rojo





Son rojos los deseos y las ganas. Morados son los labios, las palabras y los sueños.

La memoria por su vez es pura imagen. Ganas rojas, imagenes amarillas y moradas son puros colores de tu serena presencia.

July 19, 2010

Azul



É azul a cor da luz que espera teu olhar. É quase manhã nesse abrir de janelas da alma.