April 02, 2009

Pintura


Pintei quadros, escrevi imagens, sonhei mundos sem fim. Procurei a sombra da árvore no caminho da escola. Chorei minhas dores sob a generosa sombra da sua copa. Amei desesperadamente cada instante que teu olhar pousou sobre mim.

Ah, como é difícil e cruel imaginar as cores que não mais posso sonhar! Há uma foto, em Alexandria, que mostra o sol brilhando no reflexo dos teus olhos. Há uma passagem no bolso para a Grécia e um pequeno detalhe prendendo o cabelo. As cores são imaginárias e até mesmo inexistentes. A estação central está lotada. A passagem, os óculos, a pequena bagagem e os documentos foram checados mentalmente.

As cores continuam inexistentes. O caminho para escola favorece a procura. É nesse caminho que a árvore convida ao repouso e ao pensar.

O tempo, os anos, superposições de memórias, lembranças, recordações e imagens que não se apagam. Florentino Ariza, que conheceu o amor, contando cinquenta e três anos, dias, horas e minutos do seu amor por Fermina Daza.

As palavras gastas, velhas, emboloradas. A poesia barata, recendendo seu cheiro ocre, é uma peça cromada soltando os pedaços. O político nega ser político e o poeta nega ser poeta. Todos negam humildemnte o que são. Renegam e recusam ser como os demais.

A cor é grega. Um espledor de muitos megawatts espraiados pelas ilhas, pelas imagens flutuando sob a copa da árvore a caminho da escola.