October 28, 2009

Interrogações




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Traço com asteriscos a linha que divide o tempo em passado e presente. Tento dominar o turbilhão de palavras e idéias que aparecem de todos os lados. Como gárgulas que ganham vida, as palavras fazem voos razantes sobre os desejos e os planos de organizar a vida do futuro, dos próximos dias. Tropeços e ansiedades brotam dos acontecimentos, indiferentes ao poder de determinação que havia sido combinado dias atrás. Erros, se assim se pode dizer, são cometidos involuntariamente. Eles resultam, quase sempre, de uma exagerada forma de expressar sentimentos e desejos. Tudo parece residir no plano das emoções sem passar pelo planejamento sistemático do pensamento lógico. É um jorro, um desaguar de palavras carregadas de interrogações e fantasias. Uma espécie de verborrágica sessão de análise sem a menor preocupação em sistematizar nada. Sentimentos e emoções que chegam, na maior parte das vezes, entre quase ódios e indeterminadas raivas.

Vejo o rostinho de Isabela desmanchando em lágrimas só porque a mãe não deu o brinquedo. Lágrimas e sentimentos que parecem anunciar o fim do mundo. Descabelada, o rosto expressa um sofrimento que parece traduzir as dores mais trágicas. Logo em seguida tudo cessa e cala, para voltar à normalidade, e o mais lindo sorriso surgir no rosto da criança, que viveu tudo aquilo como um sonho, uma distante e inexistente fantasia.

A filosofia é o pensamento sistemático. Qual filosofia? A interrogação não é uma exclamação, não é um contar vitórias ou atitude de vanglória soberba. A interrogação traduz a fragilidade impressionista que navega em ondas de cor, na delicadeza da flor, na certeza da morte, na dor do adeus. Tudo nessa interrogação é carregado da fragilidade humana, da indeterminação das horas, da esperança daqueles que não ultrapassam as definitvas portas do inferno.

Eis o que vejo, o que sinto e interrogo nessa manhã de pouca luz, de nuvens carregadas que estão além dos edíficios que vejo agora na varanda dessa cidade, megalópolis assustadora.