November 18, 2009

Raio




Perdoem, mas tenho que lançar mão, mais uma vez, da expressão “meu caro leitor”. O texto abaixo é daqueles que resultam de frases, copiadas e coladas, de sites e blogs diversos. Tal qual uma máquina textual primitiva, a atividade de copiar e colar frases tem a mesma estrutura de copiar e colar sentimentos. Muitas das frases e imagens encontradas, nessas navegações aleatórias, revelam latentes e curiosas lógicas. O uso da atividade de copiar, ampliado pela maravilha do processamento digital, na produção de auto-retratos, tornou-se um fenômeno que desencobre e alimenta a vaidade humana.
Trata-se aqui, caro leitor, de ver como ficou simples, imediato e banal expor desejos infantis, imagens de flores, animais, paisagens, visitas de parentes, fins de semana no campo, para o mundo inteiro.

A internet vai permitindo viagens pelo que resta disso que um dia se conheceu como alma humana, revelando seus detalhes grotescos, sublimes e banais. As redes sociais, os metaversos dos granfinos, a invasão cultural na senzala, as escalas astronômicas das trocas comerciais, todos contribuindo para o homem depois do homem.

O nome do poema é Raio. Será, caro leitor, o Raio apenas uma montagem de sentimentos, um facilidade computacional? Avalie.

. . . . . . . . . . . . . . .


O dia já raia, vou partir. Voar para bem longe.

Você tem algo para mim.
O que você tem que tanto quero?

Segredos, magia, fortuna, saúde, vaidade, poder, riquezas, alegrias, sorrisos? O que você tem para mim, pernas, braços e abraços da cabeça aos pés?

O que move essa viagem é a lembrança e o desejo de voltar a ver teus olhos. É procurar o sentido que o sol aponta, que faz a planta procurar a luz. Esperando flores, esperando cores. É assim que caminha essa busca da arte no deserto da ciência, nesses diálogos impossíveis e, talvez por isso mesmo, pertinentes.

Fernando Pessoa, esse outro, para além de uma filosofia e de um destino porto guês, anuncia a sina do sol. É inútil, enigmático, claro e lá e cá, em toda parte e em lugar algum. É só isso, desejo. E sentir o sabor do hálito vindo, no enigmático perfume da flor. O cheiro ácido, doce, amargo, penetrando um sorvete de maracujá, amarelo y Van Gogh.

"Se pois é lei do fado / Que sempre a dor / Caminhe negra ao lado / Do verdadeiro amor, / Vamos sofrendo a nossa / Com os demais". É um Sonho de uma noite de Verão - Essa desdita que sempre fez no coração humano um holocausto.

Adoro quando me beijas... quando me tocas... quando ficamos agarrados um ao outro.

O dia já raia, vou partir. Voar para bem longe.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

É com você, caro leitor!