Volta a este Palco é como voltar a Ítaca após a mais febril loucura da imaginação.
December 27, 2015
January 16, 2013
O gerúndio e a gérbera
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Otavio
E as gérberas, qual o papel delas na sua vida? Por que você não conta as tentativas frustradas de sonhar com as borboletas amarelas? Conte sobre as que nasceram na sala e depois fugiram quando se abriram janelas. Por que você não fala delas?
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Imaginara que sua alma era o avatar de Florentino Ariza. Depois, por estúpido descuido, apagou o texto. Tentou lembrar-se daquilo que tinha escrito e não entendeu ter consumido longo tempo narrando o acidente imaginário. Era um exercício delirante, tentativa absurda de expressar o que de fato importava. Porém, no lugar de falar sobre o sofrimento da sua alma, ficou devaneando sobre um acidente imaginário.
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Perguntou se suas dúvidas e angústias derivavam das dificuldades com o gerúndio. Desde muito cedo, as professoras de português sempre lhe pareceram uns demônios. Mais tarde, suas dificuldades cognitivas se acentuaram, sobretudo quando foi "sugestionado" a ler Heidegger. Depois disso, tornou sua escrita obscura, no sentido mais profundo da falta de compreensão.
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Olhou o relógio e viu que já se tratava da uma e quinze, do horário de verão. Resolveu que não deveria sair de casa; melhor ficar e pensar em como escrever algumas palavras, por mero prazer. Suas dificuldades com o gerúndio não o tinham afastado de todo das fantasias de ser um escritor. Acreditava que, depois de tantas leituras, mesmo sem o gerúndio, sua literatura poderia encontrar um lugar para existir.
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Afinal, chegara a hora de dizer algumas palavras, sobretudo as que não fizessem sentido; ficavam mais fáceis de ser entendidas. Viu nisso uma grande esperança e um futuro de nonsense pela frente.
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Sentiu um pouco de sono, mas resistiu antes de bocejar. A noite tinha sido longa. Muitas lembranças ocuparam as horas mais silenciosas da madrugada. Lembrou a tenacidade de Florentino Ariza e a força do amor profundo e devastador de um homem por uma mulher. Foi mais ou menos a essa hora que decidiu resolver, de uma vez por todas, seus problemas com o gerúndio. Já passava das quatro e o silêncio era uma dádiva.
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- Você está vendo?
- Vendo o quê?
- Ora, o gerúndio!
- Não, só as gérberas.
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Ainda intrigado com suas dificuldades com a língua materna, leu no portal de notícias uma matéria intitulada "Rihanna com um chapeuzinho engraçado". A chamada era para o álbum, reproduzido por um portal de notícias, das fotos postadas por essa celebridade, no Facebook. Um ativo tóxico, como costumavam dizer nos corredores do mercado financeiro. Ele, o avatar de Florentino, parecia preso no trânsito caótico da segunda-feira de chuvas escandalosas.
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Quando afinal alcançou o conforto do sofá, ouviu o repórter da tv fazer um divertido comentário sobre o bloco carnavalesco dos jornalistas brasilienses: "Nós que tanto nos amamos". Uma ironia sobre a guerra de egos, similar à dos políticos e à dos publicitários. Aliás, essas três "categorias" gozam de péssima fama, no que diz respeito ao caráter e à credibilidade daquilo que dizem, sentem e pensam, concluiu o repórter, no seu comentário.
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O avatar delirante de Florentino Ariza buscava alívio para suas fantasias, enquanto imagens povoavam incessantemente sua mente. Subitamente, viu-se tomado pela maciez do sono. Um galo cantou n'algum lugar, mas o sono profundo já transportara o sonhador para outros bosques de gérberas.
December 24, 2012
Uma tarde
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Otavio
A luz invade os esconderijos das sombras suaves. O calor é abrasador, corrói a vontade de qualquer coisa. Reflexos cintilam sobre o piso encerado e refletem luzes na superfície lisa e brilhante da peça encostada à parede da sala.
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Minha vontade, esse conceito indiferente às reflexões e aos brilhos, padece os males típicos das abulias. Vontade incerta e luzes corrosivas compõe um quadro de dúvidas e preguiça. Tarde típica de verão e de véspera de alguma coisa. Um Natal especular.
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Penso na poesia e faz calor. Enquanto essas luzes vão e voltam na instabilidade do momento, sinto prevalecer uma espécie de distanciamento, lento e perseverante, das palavras encontradas nesta tarde.
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Aqui, tudo é luz e saudades...
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Entre assimétricos reflexos e uma falta indizível, tua imagem baila nos planos iluminados da passagem dessas horas.
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Pensar nas horas da tarde, quando o sol risca o resplandecer, é pensar em vc, nas partes internas e harmônicas, na direção das linhas que marcam as formas das pernas, sob o guardar das roupas.
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É um pensamento de luz e instante, um delírio fotográfico sem registros analógicos ou digitais. Puro especular, um quase Natal!
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Você, meu amor, é o meu tempo!
December 10, 2012
Navegar
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Otavio
As palavras surgem outra vez sobre o branco sem fim. Esse 'Pacto' recomeça lembrando a poesia e o tempo. Palavras e imagens, naves perdidas na imensidão do azul, conduzem para um distante lugar.
O poema de Kostantino Kaváfis
Velas
Os dias do futuro erguem-se diante de nós
como uma série de pequenas velas acesas
pequenas velas douradas, quentes e vivas.
Os dias passados ficam para atrás,
uma triste fileira de velas apagadas;
as mais próximas ainda exalam fumaça,
velas frias, derretidas e recurvadas.
Não quero vê-las, entristece-me seu aspecto,
e entristece-me lembrar seu primeiro clarão.
Adiante contemplo minhas velas acesas,
Não quero voltar-me para não ver, apavorado
com que rapidez a sombria fileira se alonga,
com que rapidez se multiplicam as velas apagadas!
July 28, 2010
Silêncio
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Otavio

Essa publicação chega ao fim. Após quatro anos de uma produção diversa e muitas vezes caótica, os textos aqui publicados não têm mais razão de ser. Eles compõem, agora, a pequena memória de uma bela história de amor. O amor não morreu, a história não acabou, mas se impõe o silêncio.
Agradece as visitas e informa que outra publicação deverá vir à luz.
Silêncio, fim supremo da ausência.
O amor, eros puro e sanguíneo, vermelho rubro de ganas, exibe as mais belas e ingênuas fraquezas humanas.
July 25, 2010
Postais
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Otavio
July 21, 2010
Rojo
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Otavio
July 19, 2010
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