May 22, 2008

Fuerzas Extrañas



Meu querido amigo Miguel,

Estou de volta de uma viagem que durou uma semana.

Fui ver as águas do Plata que lavam minh'alma e encantam meu coração. E na volta, nem mesmo recuperado do que vivi, eis que vejo as marcas das minhas mãos no passeio da glória, registradas na sua obra.

Curioso é que faz algum tempo eu me perguntava se vc algum dia faria algum comentário escrito sobre mim. Coisas dessas vaidades adolescentes que espera integrar uma espécie de "sociedade dos poetas mortos". Mais curioso ainda é que quando abri a
caixa postal haviam e-mails seus e de nosso amigo e grande poeta Luis Chateaubriand. Abri primeiro a mensagem de Chatô que fez uma brincadeira dizendo que eu não estava em Buenos Aires, mas sim correndo por aí com medo do Mapinguari.

Achei incrível como vc me deu a ciência e o título de doutor para explicar aos selvagens a viagem de Darwin e os nossos parentescos com os macacos. Gabirus incultos carentes de instrução pública.

Mas desta vez a AmericaLatina é llanura pampa com outros ruídos e outras pororocas. Agora é uma nuvem negra vida do Chile saindo da boca quente do Llaima. Nuvem de temores e mortes, rugindo em cores espetaculares e assutadoras. Ao lado dessa chuva de cobre vejo a Leopoldo Lugones falando de Fuerzas Estrañas, publicado em 1906. Dizem que a obra mais deslumbrante dele é o Lunario Sentimental de 1909.

Também encontrei Rubén Darío e Juan Gelman. E, afinal, adquiri um exemplar, em espanhol, dos Cantos de Maldoror. Foi uma festa como vc pode ver. Ao leve roçar da imaginação e da fantasia fui transportado para o restaurante do Museo Latino Americano de onde podia ver os parques de Palermo coloridos de outono.

Das pororocas amazônicas aos mistérios universais, que Borges enxergava na vida, com passos ora rápidos, ora lentos, vou caminhando pelas bordas desses caminhos.