June 01, 2008

Comunicação, Psicanálise e Moda


Montaigne falava dessa pretensão que alguns homens têm de querer transformar banalidades em temas de elevada importância. Criticava a forma como certos trabalhadores da cozinha, hábeis cozinheiros, falavam e descreviam a importância da sua atividade. Davam ao assunto, com suas palavras e impostação de voz, a importância das questões de Estado.

Do mesmo modo ironizava aqueles que se deliciavam encontrando sentido em relacionar o início de certas palavras com outras, e assim tecer poemas ao acaso.

Maravilhoso é descobrir, com Montaigne, que desde a Grécia já existiam esses poemas em forma de "ovo, de bola, de asa, de machadinha, obtidos pela variação das medidas dos versos que se encurtam ou alongam para, em conjunto, representar tal ou qual imagem".

Não sou capaz de afirmar se a técnica de molhos, e a variedade de saladas da estação "ornamentadas por belas palavras", ocupam a mesma importância na volúpia da frivolidade.

A poesia concreta e as fitas coloridas do Senhor do Bonfim são testemunhas das irônicas e estranhas mutações do sentido ao longo da história.

Adrian Ferran, com seu El Buli, exibe, em Kassel, o vermelho rubro do tomate catalão no centro do sagrado espaço da arte Alemã.

Montaigne não viveu a opulência, o luxo e o desperdício das ricas sociedades contemporâneas. Mesmo nas senzalas da pós modernidade existem analgésicos e soluções rápidas.

A intimidade é um luxo de poucos.