
Acordo e leio os jornais. Visito rapidamente a caixa de mensagens e respondo logo às urgências do trabalho. Tenho que preparar uma aula. Os livros estão selecionados sobre a mesa há algum tempo. O tema a ser apresentado requer uma reunião inédita de correntes do pensamento, muitas delas contraditórias. Os diálogos são, na maioria das vezes, ab_surdos.
A tarefa matinal tem início depois que a memória se recolhe.
Será a impossibilidade da linguagem que faz nascer o poeta? Lendo Octavio Paz, vivo, sempre mais uma vez, essa experiência de espanto e assombro diante do modo clássico, suavemente humano, grandiosamente sublime, como as palavras são capazes de elevar o espírito ao alto, lá de onde se vê a imensidão do abismo.
A luz invade a sala. Há luz. As palavras irradiam uma presença enigmática. O assunto da aula é o poema visual.
Por que poesia?
Desço as cortinas e procuro a suavidade, propícia à luz do pensar. O poema visual é o teu corpo. Na galáxia dos sonhos da minha esperança, vejo tua imagem impressa na indiferença do tempo.