May 28, 2009

Mnemosine


O templo das musas era o Museion, lugar das artes e das ciências. Musas, museus e outras memórias estão 'editadas' na imagem de Hermes, que ilustra a tela do meu celular. O tempo, a história e a tradição criptografados em bancos de dados esquecidos em inimagináveis, e definitavamente intraduzíveis, códigos que possam circular no Twitter.

Mergulho nos labirintos das new media perguntando pelo essencial que ficou do passado filosófico. Nessa filosofia pretérita que provocava Ortega y Gasset perguntar pelo que virá no futuro do homem.

Um olhar para trás nos entrelaça e orienta o olhar para frente. Ortega diz "o passado é uma catapulta que nos lança pelos espaços ainda vazios do futuro por vir". São, portanto, dois olhares que se cruzam no jardim dos caminhos que se bifurcam. Jano olhando o passado dezembro e o futuro fevereiro.

Viver para lembrar, para sonhar e narrar. Recolhendo fragmentos de sonhos vindouros em arcas escondidas nas velhas casas das fazendas e nos arquivos da cidade. E também naquelas janelas de Ouro Preto, nos escondidos escaninhos da Irmandade dos Pretos Velhos da Bahia e em todo sabor que embriaga a memória dessas lembranças.

Essas reflexões também poderiam ser chamadas de aprendizados de elegância. Seguindo a lição do Ortega: "Elegante é o homem que nem faz nem diz qualquer coisa, já que faz o que é preciso fazer e diz o que é preciso dizer".

E antes mesmo dos "atos de fala", de Austin e Searle, já se sabia que "O dizer é uma espécie de fazer". Nos textos dobrados e escondidos da filosofia encontramos, com desconcertante atualidade, o dito que bem pode caber numa mensagem do Twitter.

"O Senhor, a quem oráculo que existe em Delfos pertence, nem declara nem oculta porquanto sugere". Heráclito, Fragmento 93.