October 25, 2009

Brincar




A linguagem é um jogo, um jogo de linguagens. Mas esse jogar é uma brincadeira que recomeça tão pronto o jogo termina. A criança joga e nós jogamos fora as palavras ou guardamos silêncio e prudência naquilo que não dizemos.

O que está em jogo parece ter a importância do próprio destino. Mas, quando brincamos, o jogo está associado ao prazer da criança quando vê outra criança que, sem mesmo perguntar primeiro pelo nome, simplesmente indaga: você quer brincar?

A filosofia cuida da linguagem desde o seu começo. Durante toda a sua vida, essa moça tão cheia de sonhos, sempre escarafunchou a caixa da linguagem. Essa caixa guarda os segredos e o destino do homem. E das mulheres, é claro.

O e-mail tinha duas pequenas perguntas. As perguntas eram simples mas difíceis de ser respondidas. O silêncio, na caixa da linguagem, é o oculto que foi para a face escura da lua. Talvez definitivamente deletado do desejo ou transformado em angústia e dúvida.

O jogo é a vida que escolhemos a cada lance do peão. A linguagem é quem diz o lugar do peão e quais as estratégias na construção dos sonhos, nossa procura para estimular em nós o melhor da humanidade. Para muitos, isso é uma brincadeira pueril, para outros é uma atividade difícil, transformadora, mas sempre muito perigosa.

A pobreza da vida é expressa na pobreza da linguagem. Não só no uso dos termos mas também nas formulações limitadas, na ausência dos vôos do espírito, na incapacidade de sonhar e criar novos mundos. Tudo é claro, demasiado dado. Aparentemente óbvio. E a vida passa entre um gole e um 2 a 1.

Os limites entre a pobreza de espírito e a exuberante abundância do reino da poesia vão tatuando nossa alma ao longo da vida. Cada marca da nossa história, o orgulho e o prazer mais elevado que nos permitimos viver, remete sempre a Shiller: “É o espírito que constrói o corpo à sua imagem”.