November 04, 2009

Cartas de Amor


Escrevo cartas de amor para a mulher que amo, faço sexo com outras mulheres. Foi isso que ele me disse, caro leitor.

Perguntei-lhe como era isso, como era possível essa contradição, ele nem mesmo piscou e disse à queima roupa: a vida é assim mesmo, cheia de contradições e becos sem saída. Não posso fazer nada. É assim que a vida acontece para mim.

Enquanto olhava seu rosto marcado pela distância, pensei nas minhas leituras. Nas realidades que tomava conhecimento através dos livros e das revistas. Meu tempo estava dedicado a escrever sobre a memória, sobre lembranças e esquecimentos. Tinha que preparar um texto para meus alunos, mas meus pensamentos giravam em torno daquela declaração.

Enquanto a Europa sofria sob os escombros das cidades destruídas, a América erguia suas torres cintilantes para abrigar um mundo de sonhos e muito sexo. As cartas de amor eram entregues entre flores vermelhas e gérberas guardadas no fundo da alma.

De repente, caro leitor, não mais que de repente, eis que chega um e-mail dizendo: esperemos. E, desde então, espero, não faço outra coisa senão esperar. Espero um sinal, um signo de arrependimento, uma semiose da desistência e da comprovação de uma vida monogâmica e previsível.

O mundo, caro leitor, é isso aí. Esse vai e vem de palavras, desejos e esquecimentos.