December 27, 2009

Pelo sim, pelo não


O ser humano não costuma falhar, e nada faz com que uma pessoa se desinteresse mais rápido do que ter a certeza de que a outra está definitivamente conquistada. Danusa Leão, domingo, verão.

O certo é que o ser humano não costuma falhar no que diz respeito ao amor.

Mariana não tinha dúvida, o fim estava próximo. As agulhas foram retiradas e os drenos também. O seu diploma fora guardado numa caixa especial, primorosamente feita em madeira de lei. O pai, os filhos, os avós, o natal, a água mineral chegando, a cortina balançando, tudo era enigmático naquela sala. Uma palavra foi pronunciada suavemente.

A televisão está desligada, o notebook dorme. O ambiente é de tristeza, a geladeira é aberta e uma pequena nuvem, iluminada por dentro, sai pela porta. Alguns amigos estão no pequeno gabinete de trabalho. Os livros que ela tanto amou estão adormecidos nas estantes, calados, circunspectos. Todos estão assim mas Paula e Cícero não conseguem dobrar a dor e engolir com as lágrimas, os sentimentos engasgados. Parecem os mais afetados e destroçados pelo cena da retirada das agulhas.

Paula tem quatro anos, Cícero onze. Crianças não combinam com dor. A vida, ah, a vida quando se trata de dizer que “O difícil numa paixão é não exagerar”. O assunto diz respeito ao cuidado de fechar a porta e dizer adeus. É que não é tão fácil assim sair e levar as crianças até um parque, para depois lembrá-las que as pessoas que amamos estão lá no alto, nas nuvens, no céu.