April 28, 2010

Estatísticas



Já era bem tarde na noite quando começou a fechar as janelas abertas na tela. Não podia fechar todas de uma só vez. Tinha que salvar endereços e anotar referências de algumas delas. Ainda ia tomar tempo esse trabalho, apenas não tinha idéia que uma delas o levaria para bem longe e os pensamentos que brotariam ao ver aquela página seriam capazes de manter a mente perturbada e dolorida por todo resto daquela noite de lembranças e memórias turbulentas, algumas amargas e outras de uma doçura sem fim.

A janela era um gráfico, uma representação gráfica de estatísticas. As palavras nela contidas eram terrrivelmente banais e falavam do mundo dos números e dos exitos ou fracasssos obtidos com eles. Foi essa contabilidade mínima que o levou a mundos lunares, foi também capaz de acender outra lua nas ruas imaginárias de Abdera. A cidade dos cavalos imaginários que habitavam um mundo banhado pela eterna beleza da lua. Uma cidade noturna habitada por cavalos alados e negros e brancos lunares.

O gráfico era seco e direto. Tantas visitas foram feitas. Alguém, de algum lugar, leu suas palavras, viu suas imagens e soube dos poemas que você andou lendo. Os números e seus conceitos são aventuras do espírito humano. A palavra, por sua vez, é um conceito sem número que lê números como palavras e conceitos. Quando viu, naquela longa madrugada, que na quinta feira do dia 15 de abril alguém, de algum lugar, viu palavras, imagens e poemas perguntou-se porque alguém, de algum lugar, precisa ver tão inúteis palavras, tão desoladas imagens e tão tristes poemas. Não havia, no gráfico, resposta ou qualquer outro signo que indicasse satisfação a essa indagação.

O número é esse silêncio que nada diz.