May 03, 2010

Uma ilha chamada


Horas depois de tantas idas e vindas os olhos ainda estavam abertos e inundados de luz. Telas inteiras desfeitas no início da manhã luminosa e fria. Esperas inúteis e tão esperadas quanto inúteis e fortes como o café frio e amargo dessa segunda feira bucólica e triste. As estatísticas continuam indicando um olhar numérico e ácido tão distante quanto possível. As horas e as brumas passam como nevoeiros eternos e finitos. Vitaminas amargas e cruas tal qual penas de plumas de pavão misterioso desesperando o mistério desse desejo cru e ascético.

Não vou mais pensar que pensei que queria, que quero, que sonho, desejo e necessito pois assim tão pronto digo isso tudo volta a essa mesma luz cor de suco de algo que nem mesmo sei o que é. Talvez de um maracujá amargo e amarelo belo e flor de perfume duvidoso e covarde manchando minhas roupas alvas e puras de desejos e lamúrias. Para que todas essas palavras e aquelas outras que aqui não aparecem desapareçam de uma vez por todas das dobras das minhas esperanças calculadas febris.

Puxo uma corda fina e amarro esse amargor de esperanças vãs entre palavras ditas, distantes e sonolentas. Um líquido de pura calma e dobras triangulares escapando por túneis mal iluminados e úmidos, frios e quase ilegais. Correm dúvidas e sons pelas ruas desertas dessa cidade que é a minha alma triste.

A manhã vai chegar logo. O barco vai partir, o adeus será dito e nunca mais verei aqueles olhos tristes que já nem mesmo sei o quanto não amei.