May 05, 2010

Um gato no pé da página


Ainda era cedo na manhã anunciada de véspera. Luzes, brilhos e burburinhos disputavam a atenção dos mais desatentos que esperavam a chegada das horas prometidas. Essas pobres palavras foram ditas por alguém sem muita expressão e que de modo algum ocupava um lugar de destaque naquela bizzara cerimônia. Almas perguntavam-se porque crianças teriam sido abandonadas tão logo expulsas das barrigas das suas mães.

Luzes e coisas como barrigas expulsas de um paraíso perdido perguntavam-se por crianças perdidas nas ruas de Ciudade Juarez. Eram, a bem da verdade, pacotes de drogas cheiradas e esquecidas em festivais de vídeos ou de cinemas ou de qualquer outro festival melancólico. Ainda assim o secretário da cultura geral, abstrata e popular brigava por mais verbas e mais inclusões de outras barrigas no imenso rol das inutilidades carregadas de novidades e de grande interesse.

Tudo era nonsense naquele encontro de barrigas vazias e bem pagas. Piercings pendurados em todos os umbigos brilhavam atentos aos interesses alheios e aos desejos imediatos e longínquos. Tudo era Alice in wonderland naquela caatinga braba e cheia de pó empilhado pela estradas do nordeste da solidão.

Corredores imensos e frios e úmidos consolam a alma triste do caminhante, envolto em pensamentos e outros lembranças.