June 06, 2010

Auto do Beijo Mediano


.... consultando aos búzios e fazendo perguntas ao oráculo de Delfos.... "que não afirma nem nega, apenas revela o pensamento" ...


Auto do Beijo Mediano.



De onde você saiu, Satanás?!

Com essas tão belas palavras e esse sorriso feito por Deus?

Vou ao centro da cidade comprar uma faca, vou deixá-la cega e enferrujada, com ela vou rasgar o teu ventre, o teu livro, as tuas ilusões.

Vou te beijar pois sei que “não há pena que valha uma abreviação do beijo”, nem mesmo o teu inferno eterno dilacerando meu desejo.

O teu nome roça meu delírio, fere a delicada pele, rasga veias.

Por qual porta você entrou, oh satânico lilás?!

Sei da tua histeria que não me permite tocar tua boca, diabólica contradição vestida em paradoxos.

Ou será tua boca o lugar da tua inspiração, dos beijos dostoiévskianos, das citações dos cadernos azuis e dos poemas dominicais?

Mas agora vejo: quando é anunciado o fim dos tempos, ou o começo de um novo enigma, eis que a geografia topologicamente situa o beijo no aqui.

Aqui, nesse lugar, entre essas palavras, esses artifícios de labirintos de mil minotauros e de escassas ariadnes, onde surge a hipermídia com sua lógica clara.

Não sonhe além desse aqui, dessa palavra clara, dessa opção pela medianocridade.

O diabo veste Prada, sofre para escolher a maquiagem e sorri, com sorriso divino, suas loucuras, suas contradições, seus paradoxos.

Tome assento Satanás, a casa é sua! Estou tranquilo pois, entre sorrisos, já se disse que “matar Deus não é uma atitude lúcida e cabível”.

Ele, o todo poderoso, vai zelar pela partitura suave de um tempo sem contratempos, sem horas passando, sem devir. Tudo sendo um eterno aqui, sempre aqui, e agora, o hic et nunc latino, feminino e maravilhoso.