October 20, 2009

Andrômeda



Acordo e leio os jornais. Visito rapidamente a caixa de mensagens e respondo logo às urgências do trabalho. Tenho que preparar uma aula. Os livros estão selecionados sobre a mesa há algum tempo. O tema a ser apresentado requer uma reunião inédita de correntes de pensamento, muitas delas contraditórias. Os diálogos são, na maioria das vezes, absurdos.

A tarefa matinal sempre tem início depois que o esquecimento se faz presente.

Será a impossibilidade da linguagem em dar conta do sentido profundo e último das coisas e do mundo que faz nascer o poeta? Lendo Octavio Paz, sempre mais uma vez, vivo essa experiência de espanto e assombro diante do modo clássico, suavemente humano, quase cruel e sublime como as palavras são capazes de elevar o espírito ao alto, lá de onde se vê a imensidão do abismo.

A luz invade a sala. Há luz. As palavras irradiam uma presença enigmática. Ainda é possível esse gênero narrativo que se arrasta desde tempos imemoriais? O assunto da aula é o poema visual. Naqueles livros, ali na minha frente, autores caminham por veredas estranhas procurando saber como é possível o lirismo sobreviver, ainda hoje, no rarefeito e precário mundo construido pelo homem.

Por que poesia? A pergunta é logo descartada como inútil. Se algo, seja o que for, não puder ser convertido em venda, negócio ou prece a Deus, então não há interesse.

Mas se for convertida em negócio ainda será poesia? Há poesia com desenvolvimento sustentável? Uma poesia do eucalipto industrial num diapasão poemétrico com as mineradoras, escavando as entranhas da terra?

Mas há luz e há alguma poesia. Essa doce sombra que abriga o homem da ferocidade da clareza.

Desço as cortinas e procuro a suavidade, propícia à luz da poesia. O poema visual é o teu corpo. Tua imagem impressa na indiferença do tempo. A galáxia dos sonhos da minha esperança.