October 17, 2009

Ybicuys



Procuro manter distância dessa literatur produtivista Gabriel Chalita Opus Dei, mas não deixo de ver tudo isso escoando pelos bueiros que passam longe dos muros dos Jardins.

Vejo uma mistura da Folha de São Paulo, Rede Globo, Record, El País, La Nación, Gramma, New York Times.

… tudo resumido em uma única notícia, que poderia estar em qualquer lugar: na selva, com seus micos leões dourados ou nas vitrines iluminadas por neóns suavemente lilases. Um mundo compactado, um código com intermináveis senhas, lembranças criptografadas. Uma lagoa e uma casa de fazenda, iluminada, seca e fria durante a noite. Café e frutas. Água e terra. Lama e brincadeira. Flores, sonhos e crianças, e saudades de saladas com coca-cola.

O mundo, muitas vezes, é uma coca-cola com saudade. Dentro disso, que para alguns nem bebida é, existe um gás. Nesse gás, um efeito mágico faz o conteúdo negro lançar minúsculas esferas cheias de luz. Coisinhas… de existência tão curta… trazem à vida, pela lembrança, a magia que a ilusão faz brilhar.


O filme cheio de cores, gritos e dores. O café está quente. Melhor dar um pause. A imagem congela no rosto inquieto da mullher. Uma saudade vermelha e branca. Uma salada com muito azeite, sal, limão, e pão.

Isso tudo é política baiana, brasileira. Olho e vejo a cultura brasileira como um resultado sincrético da rede globo, futebol e nelsonrodrigues. Peço paciência pela criptografia. Mas, com uma boa senha, é possível, desse ponto de partida, encontrar Gregório de Matos e Nelson Cavaquinho, passando, evidentemente, por Gilberto Freyre, Antônio Risério e Dorival Caymmi. A Bahia, essa grande agência de publicidade, é o palco dessa cultura.

O Brasil é uma paróquia e uma paródia. Tiradentes, Ouro Preto, Pindamonhangaba e Santo Amaro da Purificação. A Tarde, Jornal do Brasil e uma Folha cheios de notícias, cheios de silêncios, de nadas, mas com preciosas imagens das marginais Pinheiros e Tietê, engarrafadas até o limite do mau cheiro. Shoppings Iguatemis, Salvadores, Itapebis, Itororós e Ybycuys de carnes ao sol.

Paciência, isso está criptografado!
No mundo em que vivemos, o cuidado em embalar palavras é desmedido.
Tudo pode significar tudo e nada ao mesmo tempo.
É preciso tempo, palavras, esquecimento.

Santa Catarina, alemã tucunaré pataxó hã hã hãe, quem sabe holandesa, de Nassau pernanbucana, bolsa Fullbright e conexões frankfurtianas de culturas industriosas. Uma falta de sentido colossal, cínica.

E, para completar, biscoitos kasher, sorvetes Häagen-Dazs, pés-de-moleque e suaves quebra-queixos.

A poesia é esse amontoado de palavras doces, medos, celos, ganas. Ganas de ti.
Temores de balas perdidas, tristezas súbitas ou crônicas.

Este poema é um medo de resenhas, de versos, prosas, novelas e contos.
Medo de certas e inevitáveis palavras.
De palavras que não voltam atrás, de saudades sem fim.

Na caverna dos Cíclopes tem televisão de plasma. Ninguém está na tela. Ulisses salta fora com seus companheiros. Esperam as magias sexuais de Circe. É sempre melhor sonhar, é sempre melhor nadar no mar azul das ilhas desconhecidas.


Saudades do léxico, da dúvida, das incertezas no mercado das idéias.
Feiras de livros, sorvetes de maracujá flutuando sobre as águas paradas de todas as possibilidades.