October 14, 2009

Esquecimento Global



Em oposição ao aquecimento global, deve-se pensar no esquecimento global. Esquecer que somos humanos e que acreditamos na salvação da alma e na dor que impingimos aos frangos, aos bezerros e aos outros bichinhos que, quando assados ou grelhados, são uma delícia.

Hoje, ainda hoje, o judeu Luis Felipé Pondé (os judeus se apresentam sob os mais diversos nomes – eu só conhecia os Goldfingers e os Safra), a quem tenho uma grande admiração, falava exatamente da cara de pau desses defensores das galinhas mortas que morreram na cruz para alimentar, com suas carnes brancas, as nossas barrigas adiposas e imorais. Dias difíceis esses nossos em que as pulgas são mal vistas e as baratas odiadas. O homem transporta sua estupidez para todos os seus propósitos, sobretudo para os mais nobres.

No meio do caminho há uma pedra. Pedras são poemas graníticos, perfumados com sangue e dor. Cora Coralina não é cobra coral colorida graduada em Comunicação e nas suas teorias apavorantes, que sofrem de hipodermias culturais. Tem, olha só o verbo, gente que tem cultura e currículo Lattes de dar inveja e náuseas. Aliás, quando ouço alguém falar em Currículo Lattes pergunto sempre aos meus botões de carne e ovo se ‘os cães Lattes e se a caravana passa’. Difícil dizer algo nesse barulho ensudercedor do Enem, das medidas tecnicamente mornas da ABNT.

Ah sim, e, para completar, tudo que aqui foi dito pode ser enfiado no Lattes. Não no meu, é claro.